Você me encontra também no Facebook e no Twitter

6 de dezembro de 2011

CAMINHOS OBSCUROS



Mais de uma centena de pessoas se reuniu ontem no German para discutir o projeto da BR 440.

Você é contra ou a favor do projeto da BR 440?

Se você respondeu contra ou a favor, em ambos os casos está enganado. Sabe por quê?

Porque simplesmente o projeto não existe!

Acredite, o projeto da rodovia tem apenas nove quilômetros. Só vai até um pouco depois do Bahamas. Dali pra frente é uma ideia (de jerico) que vai criar uma rampa que desaba no bairro Democrata e completa o estrago no pior nó do trânsito da cidade, no Mariano.

A obra está embargada por decisão do TCU por suspeita grave de superfaturamento. Está entre as 25 obras com mais irregularidades no país.

Em depoimento na Câmara dos Deputados, Luiz Antonio Pagout (ex-Diretor Geral do DNIT) disse sentir "vergonha" por essa obra.

Orçada em 107 milhões, a BR já recebeu 64 e gastou 35 em apenas 4 quilômetros, o que dá um custo impressionante de cerca de 9 milhões por quilômetro de obra.

Pior que isso é o estrago que ela vem fazendo: destruindo o manancial que abastece 9% da população da cidade (a represa de São Pedro), alagando (com esgoto) um sem número de residências e rachando ao meio uma tradicional região da cidade.

A ideia de ter uma BR entrando numa cidade contraria todas as tendências de um urbanismo saudável, que preserve a qualidade de vida. Em todo lugar estão fazendo anéis rodoviários. Menos aqui.

E isso é só um resumo.

Esse é o preço que a cidade tem que pagar pelo que os mal informados andam chamando de "progresso"?


5 de dezembro de 2011

LIVRE ARBÍTRIO




Esse é um conceito cristão que justifica outras noções religiosas como culpa, pecado e perdão.
Deus teria dado ao homem o poder de decidir livremente qual caminho seguir, qual opção fazer, pelo bem ou pelo mal, o certo ou o errado. E o homem seria responsável pelos seus atos e consequências.

Assim, o homem que erra tem culpa, incorre em pecado - dependendo da gravidade do erro - e deve através do arrependimento buscar o perdão que só Deus pode dar.

O fato bíblico mais antigo é o da expulsão do paraíso e sintetiza a tese cristã. Deus criou o mundo perfeito onde os leões brincavam com os cordeiros e nele colocou o homem e a mulher (essa para que ele não ficasse só). E disse Deus: "Você pode fazer o que quiser, menos comer daquele fruto". E aí lhe foi dado o livre arbítrio.
O resto da história todo mundo conhece, vem uma serpente, enche a cabeça da mulher, essa usa as armas de persuasão e faz com que o homem coma o fruto proibido. Aí fudeu tudo. Foram ambos expulsos, passaram a ter que trabalhar e sentir as dores do parto (sendo que esse castigo coube só à mulher).
Por conta disso, todos nós, descendentes de Adão e Eva, já nascemos com nossas contas no vermelho. Já nascemos em pecado original e precisamos do batismo cristão para acertar as dívidas arcaicas.

Seria hora de Adão perguntar a Deus: Muito bem, Você me deu o livre arbítrio, e eu, fazendo uso dele, escolhi uma opção diferente da Sua. Que livre arbítrio é esse que eu só posso então fazer o que Você quer?
Nesse diálogo absurdo Deus responderia: "Relaxa, quando criarem a psicanálise você vai entender tudo".

Bem, se você acredita que um livro escrito há quatro mil anos por um grupo de judeus que vivia numa aldeia perdida num canto de deserto é a verdade definitiva deixada por Deus, respeito sua crença. Mas aquilo pra mim é só uma opinião datada, com a intenção precípua de estabelecer regras de condutas para tribos de judeus e sua complicada relação com seus vizinhos.

Quatro mil anos depois, outro judeu escreveu textos nem tão sagrados, mas que explicam melhor as raízes das opções humanas: Freud, o pai da psicanálise. Também são opiniões, mas mostraram que as escolhas estão longe de serem totalmente livres, que estão condicionadas a traumas, eventos passados da nossa história pessoal e coletiva.

Pra não estender demais, a publicidade (às vezes associada à neurolinguística) tem desenvolvido maneiras extremamente eficientes de programar opções individuais e coletivas. Quando um comercial vai pro ar (incluindo das campanhas eleitorais) ele tem o poder cientificamente calculado de determinar decisões. Às vezes até erram porque há sempre um milhão de fatores envolvidos.

De Jeová à propaganda, temos livre arbítrio, desde que seja a vontade deles.

4 de dezembro de 2011

O CALCANHAR




Morreu Sócrates, um dos grandes do futebol brasileiro de todos os tempos. Além de craque nos campos, foi líder da "democracia corintiana" um dos poucos momentos em que jogadores de futebol mostraram que tem na cabeça alguma coisa além de bolas e cifras.

O Doutor morreu de cirrose hepática, causada pelo consumo abusivo de álcool. Nisso ele tem muita companhia. No país, morrem milhares de pessoas todos os dias, vítimas de doenças provocadas pelas chamadas drogas lícitas, álcool e fumo. Eu perdi meu pai e dois tios e com certeza todo mundo tem uma história dessas na família.

Nunca ouvi falar que alguém tenha morrido pelo consumo de maconha. E mesmo outras drogas mais agressivas como cocaína e crack, provocam muito menos vítimas fatais que as socialmente toleradas.

Pior, álcool e fumo agem com grande liberdade, conquistando novos consumidores a cada dia. A extrema proximidade da cerveja com o futebol é uma estratégia de buscar o público jovem como cliente. A patética frase obrigatória "beba com moderação" é um deboche, porque a propaganda prega nos outros segundos do comercial exatamente o contrário.

Qual é então a lógica dessa sociedade hipócrita?
É simples, o lucro é o único valor que interessa, porque sustenta todo o sistema. Os que morrem não preocupam os produtores e publicitários pelas vidas perdidas. Preocupam enquanto necessidade de reposição de novos consumidores.

Morreram 100 mil. O mercado perdeu 100 mil consumidores. Hora de buscar novos clientes.

Vai com Deus, Doutor. Que a sua última jogada possa ser um gol a favor de um mundo melhor. Que a gente consiga aprender alguma coisa com isso.