O episódio da “libertação” dos beagles me lembrou aquele clássico da Disney
que já em 1961 levantava a questão do uso de animais para atender necessidades
humanas. Claro que quando se trata de sacrificar filhotinhos de dálmatas para
fazer casacos de pele fica fácil tomar partido e identificar onde está a
maldade.
Mas e quando os lindinhos são usados para produzir cosméticos, vacinas e
outros fármacos? Aí a plateia se divide, entre os que justificam os meios pelos
fins e os que respeitam a vida dos bichinhos.
Nós, humanos, além de inteligentes somos hipócritas – o que só é
possível quando se é inteligente. Em primeiro lugar, o que mais fazemos em
nossa existência é ceifar vidas. Em segundo lugar, escrevemos num livro que
somos superiores às outras espécies e daí deduzimos nosso direito em decidir
sobre a vida deles.
Temos que dar comida pra toda essa gente e aí fazemos o que todos no
planeta fazem (independente da espécie): matamos. E se pensarmos em como são
tratados frangos, porcos e bois, no confinamento e no abate, vamos perder o
apetite e o sono. Os que optaram pelos vegetais devem achar que planta não
sofre. Melhor pra eles.
Eu vivo bem com isso porque acho que faz parte da natureza: eu como um
porco e se der mole ele me come.
Porém, quando tratamos de pesquisas científicas aí a coisa complica. E,
por tudo que li e vi, por dois motivos: primeiro, porque não há certeza
científica que o teste feito in vitro e
noutra espécie possa servir de modelo para humanos in vivo; segundo, porque essa é uma prática que vem perdendo
apoio no mundo todo. “Testar
cosméticos e material de limpeza em animais, por exemplo, é prática condenada
num número crescente de países. Na União Europeia a legislação é tão severa
que, no começo deste ano, foi proibida até a comercialização de produtos
testados em animais, ainda que importados”.
Alguém questionou: “Você
deixaria de usar um remédio ou um shampoo se soubesse que ele foi testado em
cães?”. Eu abomino a escravidão, mas não vou demolir as pirâmides. A humanidade
encontrou tecnologia para construir monumentos e tem que avançar no campo das
experiências com animais.
Eu defendo o uso de humanos
voluntários remunerados.
Diz a Dra Preci Grohman, estudiosa do assunto, que “pesquisas
já são feitas com voluntários, podem ser feitas em criminosos que desejem
reduzir suas penas ou ainda em culturas de células humanas. Se forem
necessárias outras técnicas, os seres humanos devem ser competentes o
suficiente para desenvolvê-las. Um exemplo de desperdício na ciência é o
descarte diário de milhares de cordões umbilicais, ricas fontes de células. A
manutenção até os dias de hoje de experimentos em animais visa puramente
interesses financeiros, e já deveria ter sido abolida há décadas”. (Dra. Preci
Grohman)
Quando o Instituto Royal usou beagles, nossa sistema
de hipocrisia foi testado ao extremo. Usar ratos, a gente aguenta. Mas beagles,
são pets. Aí, vestiram a fantasia da Cruela e nosso imaginário explodiu em ódio
e desejo de vingança.
O pessoal do instituto chamou de “terroristas” os ativistas.
A
jornalista Alessandra Siedschlag (do site Salvacao) levanta algumas informações que invertem essa
titularidade:
“Em 2012 o Instituto
Royal recebeu CINCO MILHÕES DE REAIS de dinheiro público sem estar cadastrado
no CONCEA. Tinha licença para ser um CANIL. Apenas foi cadastrado no CONCEA no
mês passado, mas já fazia experimentações com cães. Enquanto era um canil, o “Instituto
Royal” produziu 2,8 toneladas de cadáveres de animais”.
Quem é o terrorista?