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3 de março de 2014

AND THE WINNER IS...


“Gravidade” e “12 Anos de Escravidão” ganharam estatuetas, mas quem ganhou NO Oscar foi a Samsung.
Numa obra prima do marketing, a apresentadora Ellen Degeneres fez um selfie cheio de megaestrelas e pediu que retuitassem. Curioso, entrei no Tweeter e um minuto depois lá estava a foto. Em menos de uma hora se tornou a foto mais retuitada de todos os tempos, beirando aos oitocentos mil RTs.

Aí aconteceu a grande jogada. “Espontaneamente” (dá pra acreditar que aconteça alguma coisa espontânea na internet onde estejam envolvidos celebridades e marcas?), começaram a comentar e a criticar o uso do aparelho da marca Samsung no próprio Tweeter. Bem, eu não vi a logo no aparelho e não sou capaz de distinguir uma marca de outra apenas olhando o dispositivo. Eu não sabia que era um Samsung, até ver os RTs.

Os internautas deram esse presente e a Samsung agradece.

2 de março de 2014

A DIFÍCIL VERDADE


O texto a seguir não é recomendável a quem tem intolerância à lactose e ao livre exercício da opinião.    

A Igreja Católica tem mostrado grande esforço para ajustar seu calendário de existência a uma maior taxa de secularidade. Mesmo acreditando que a maior parte das ações são peças de marketing é possível supor que em algumas gerações teremos uma igreja mais humilde, verdadeira e santa, mais parecida com o seu Criador.
Dentro dessa agenda de cortes na carne - que inclui a confissão de pecados e crimes dos mais variados tipos e tamanhos – um me parece essencial para que a fé dos cristãos seja um ato também de inteligência e não “um mergulho cego de um edifício em chamas” *: a Igreja deve falar a verdade sobre a Bíblia, o seu livro sagrado.

Alguns pontos me parecem indiscutíveis, mesmo para o mais conservador religioso:

1. A Bíblia não é um livro, mas um conjunto de livros. Entre o primeiro texto e o último há um intervalo de uns três a quatro mil anos. A maioria dos livros não tem um autor definido. Em geral surgiram como tradições orais que depois foram gravadas em pedras, papiros e pergaminhos.

2. Deus – se existe - não escreve livros. Deus pode ter inspirado os autores (e isso é uma questão de fé plausível). Mas, a considerar a quantidade de contradições, conflitos e bizarrices, difícil aceitar que uma divindade esteja por trás dessas obras.  

3. A Bíblia não é um livro de história ou de ciência, mas de mensagens religiosas, dirigidas a um grupo bem específico, diante de situações históricas bem próprias. Portanto não pode ser usada como um manual de verdades, leis e regras universais. O que era bom para uma tribo de criadores de cabras que morava no meio do deserto há três mil anos não vale necessariamente para um cidadão urbano contemporâneo.

4. A Bíblia foi falada, escrita, traduzida, editada, revista, censurada, adequada, montada e remontada dezenas de vezes. Não é possível garantir que os textos que conhecemos hoje são idênticos aos originais. Apenas a título de exemplo, a expressão na profecia de Isaías “uma moça conceberá” foi traduzida como “uma virgem conceberá”, equívoco ou intenção, que gerou um dos dogmas do cristianismo.

5. A Bíblia só começou a ser montada quando o cristianismo se tornou religião legalizada no império Romano de Constantino. Porém, até o período Reforma (século XVI), era crime punível com a fogueira ter um exemplar do livro sagrado. O acesso aos textos só era permitido às autoridades eclesiásticas.

São verdades simples que, a meu ver, não mudam a relação do crente com Deus, mas criam um ambiente de verdade nessa relação. E, como está escrito, “é a verdade que vos libertará”.

Eu respeitaria mais a Igreja por isso.


* Quando participava de movimentos de igreja ouvi essa definição de fé: um prédio em chamas e uma pessoa chega à janela, desesperada. Lá em baixo alguém grita que pule. A pessoa diz, “mas não vejo nada!”. Isso é a fé, completava o padre, a certeza de que, mesmo nada vendo, será amparado.