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25 de outubro de 2014

EU, REACIONÁRIO





O segundo turno dessas eleições criou aquele velho e desagradável dilema: você vai votar na Dilma ou você é reacionário e vota no neoliberal Aécio?
Eu acredito no voto nulo como legítima forma de expressão, mas nesse texto me interessa quebrar os pés de barro dessa falsa e oportunista polêmica entre revolucionários x reacionários.
Estrategicamente a campanha da Dilma compara os governos do PT com os do PSDB, o que é um sofisma. Nessa linha, se comparar o governo Dilma com o governo Lula, particularmente com o primeiro, Dilma se ferra, porque o governo dela foi muito pior que aquele.
O PT fez coisas importantes pelo país e principalmente por uma faixa da população historicamente abandonada. Mas acho exagero chamar isso de revolução.

Senão, vejamos.

O “Bolsa Família” era pra ser um programa transitório, temporário e hoje atende cerca de 56 milhões de pessoas e promete ser ampliado. Melhor que nada? Concordo.

O “Minha Casa Minha Vida”, na prática, é um programa de neo-favelização, tanta pela baixa qualidade das unidades, pela sua localização, e principalmente pela falta de planejamento social na ocupação. Melhor que nada? Concordo.

A redução dramática da pobreza é um exercício de reclassificação. O governo passou a chamar de classe média aqueles que tem renda per capta familiar entre 291,00 a 1.019,00. Um casal que recebe salário mínimo, por esse critério, é classe média.

O Mapa da Fome da FAO (lembrando que a FAO é dirigida por um ex-Ministro do Lula), foi produzido a partir de uma artificial distribuição de alimentos baseada no crescimento médio da renda. O que quer dizer, “se a renda per capta aumentou, diminuiu o número de pessoas com fome”. Isso não é necessariamente verdade. A fome acaba quando o alimento chega à mesa, e não porque o vizinho está mais rico.
O modelo econômico do PT é neoliberal como outro qualquer. É um capitalismo de mercado, selvagem, globalizado, com a diferença de acentuar investimentos em programas sociais discutíveis. E só!

Politicamente, o PT se associou ao que temos de pior no cenário nacional: Maluf, Collor, Renan, Sarney, etc. Todos entendemos que é uma necessidade para a governança, mas isso só faz do PT um partido como outro qualquer.

Quando tratamos da ética, vemos os cardeais do PT na cadeia por crimes de corrupção. A defesa alega em duas linhas: o PSDB também é corrupto ou então, graças à nossa Polícia Federal hoje a corrupção é investigada. Ora, ter como referência outros corruptos não é aceitável. E se a PF investigou e prendeu, o melhor seria que não tivesse botado na cadeia nenhum dirigente petista. Isso sim é um discurso correto.

Nossos números na educação são sofríveis, na saúde são patológicos, na segurança são temerários, na economia estão entre os piores de um continente pobre.

E aqui fecho meu texto antes que fique mais cansativo.

O PT fez coisas boas. Chamar isso de revolução é no mínimo um exagero. Daí, chamar de reacionário que não enxerga tanto avanço no que, de fato, foi um “melhor que nada”, é injusto.
Vote em quem quiser, vote em paz, mas não exagere nas expectativas e menos ainda em condenar quem pensa diferente.

3 de outubro de 2014

A ISSO CHAMAMOS SOCIALISMO





No debate na Globo antes do primeiro turno, a presidanta Dilma enchia o peito para proclamar que o Bolsa Família atinge 56 milhões de brasileiros. Ela e seu marqueteiro João Santana, sabem que esse tema está no núcleo que vai decidir as eleições, porque trata-se de uma multidão que entra em pânico com a possibilidade da perda do benefício.

Ontem, porém, quando ouvi a menção dos números, em mim a informação teve efeito contrário. Fiz contas rápidas e observei que o que se está dizendo é que 25% da população pertence a famílias com renda per capta inferior a R$ 77,00.

Sustentar uma família com R$ 300,00 eu chamo de miséria. Não me interessa se a ONU, o MDS ou a FAO inventaram critérios retóricos diferentes de classificação.

Ora, imaginando uma família com quatro pessoas que ganham, cada uma, menos de R$ 77,00, esse núcleo percebe menos de R$ 300,00 por mês. Recebendo o Bolsa Família, a renda deles dobra para R$ 600,00 (na melhor das hipóteses). Melhor que nada? Claro!

Mas o que está se admitindo é que lidamos com uma massa de 56 milhões de pessoas em extrema pobreza, o que é muito conflitante com o discurso do governo de redução da miséria. Mais ainda quando Dilma promete que “se for reeleita, vamos ampliar o número de assistidos”.  
O plano então é aumentar a cobertura sobre os miseráveis e não, acabar com a pobreza?

Lógica cruel. Assim, sempre terão uma massa de eleitores que a cada quatro anos perde o sono imaginando o que será de suas vidas desgraçadas se a oposição for eleita e acabar com a esmola que o governo generosamente lhes concede todo mês.