Não quero discutir a
existência de um deus, seja ele Thor, Osíris, Jeová ou qualquer outro. Essa
diversidade de nomes e formas me parece a eterna mania do ser humano de se
referir à sua própria incapacidade de se explicar. Mudam as eras, os lugares,
mas permanece a angústia.
Quero apenas colocar a
questão numa outra perspectiva.
Aqui onde vivo (Minas,
Brasil, América, Ocidente) a maioria esmagadora (e põe esmagadora nisso) professa
a fé em Cristo, filho homem de Deus.
Não é novidade que essa
história tem seus fundamentos numa região e num tempo distantes de nós, quando
uma tribo de nômades fez seus primeiros pactos com Javé.
Os eventos mais antigos dessa
crença datam de cerca de quatro mil anos atrás (ou dois mil antes de Cristo),
quando sequer havia escrita. As tradições foram transmitidas de boca a boca, à
luz das fogueiras nas solitárias noites no meio do deserto, quando o patriarca
contava essas histórias aos seus.
Naquele tempo – e até
recentemente – acreditava-se que o céu era uma abóbada, uma redoma que cobria
um prato sustentado por uma tartaruga gigante. Tudo que existia teria sido
criado por alguma entidade superior que também controlava a vida e a morte
segundo seus interesses e normas.
Nossos ancestrais
desenvolveram mecanismos de relacionamento com essas divindades que supunham a
repetição de frases e fórmulas, oferendas e sacrifícios – inclusive humanos.
Tudo para conseguir benefícios, curas, fortuna, aplacar sua fúria e
eventualmente uma vingança contra o inimigo infiel.
Justificável aceitar que
gente tão desprovida de informação e ciência tenha se dedicado a tais práticas
religiosas. O que esperar de quem só conheceu na vida um pouco de areia?
E aqui chegamos ao ponto.
Difícil é entender que quatro
mil anos depois, com tudo que sabemos sobre o universo, a matéria, a vida e o
ser humano, tenhamos nossa dimensão de religiosidade ainda presa a crenças
primitivas como aquelas.
Ainda repetimos frases
mágicas, acendemos velas, fazemos oferendas (comumente em dinheiro) e
sacrifícios, na intenção de controlar as vontades divinas e conseguir delas
algum benefício.
Acreditamos que uma água tem
poder, comemos o corpo e bebemos o sangue do nosso Deus confiando que assim ele
estará em nós.
E o mais grave (e o que
realmente me incomoda), desprezamos nossa capacidade de perguntar sobre a
autenticidade disso tudo, porque esse é o maior pecado de todos, a dúvida. Por
ele, perdemos o paraíso.
Não quero discutir a existência
de Deus, mas apenas faço a seguinte provocação: você se lembra quando foi e por
que começou a acreditar nEle?