Juiz de Fora, onde estão sua bolas? Seus culhões, cadê?
Se eu tivesse que definir em uma frase o problema de Juiz de
Fora eu diria: faltam culhões.
Culhões - ou colhões - são bagos, bolas, testículos
(ovários, por que não?). A expressão – toleravelmente machista – significa falta
de coragem ou de competência. E é esse, basicamente, o problema dessa cidade.
Questões importantes se arrastam por décadas, empurradas com
a barriga, passadas de uma gestão à outra, repetindo o vício cruel de “deixar a
herança maldita ao próximo” ou “negar o legado do antecessor para não lhe dar
crédito”.
E não é justo botar na conta desse ou daquele prefeito. Já é
um traço cultural de nossas lideranças, da nossa mídia e da nossa gente.
Quem tem aqui um pequeno quintal se arvora ao título de “Duque
do Cantinho do Barranco do Alto do Bairro de Lourdes”. E por falta de culhões,
se fecha no seu pequeníssimo domínio e morre sufocado no próprio medo. Medo de
interagir, medo de mudar, medo de modernizar, medo de compartilhar.
Apenas num rápido levantamento da dívida que a cidade tem
com a história, relacionamos:
. As obras do Paschoal Carlos Magno, que começaram em 1982.
Época em que – salvo engano - foi feita a última reforma do Parque Halfeld,
hoje uma ferida no nosso coração.
. A linha férrea que rasga a dinâmica da cidade. Com a
eterna desculpa da falta de dinheiro para tirar esses benditos trilhos ficamos
fazendo remendos e gambiarras para minorar o impacto que eles provocam.
. A poluição do Rio Paraibuna, tema tão antigo e recorrente
quanto a seca do nordeste. Faz um triste retrato de um esgoto a céu aberto de
norte a sul.
. O sistema de transporte coletivo cujos ônibus tem o mesmo leiaute
há 30 anos, tão ultrapassados quanto o seu modo de gestão. O sistema
troncalizado é um exemplo típico do que falo: iniciado numa gestão e destruído
na seguinte.
. O aeroporto da Serrinha, dimensionado para uma cidade
pequena. Para resolver, criamos o Aeroporto Internacional de Goianá / Rio Novo,
que não é uma solução, senão outro problema.
. As obras da BR-440 já completam 10 anos num trecho de
poucos quilômetros, muitos equívocos e suspeitas de malversação de verbas
públicas. E por aí vai.
Esses são momentos gloriosos da nossa “apequenação” histórica.
Nós que temos na nossa genética, a coragem e a grandeza – entre outros - de
Bernardo Mascarenhas, de Antônio Dias, de Henrique Halfeld, de Murilo Mendes,
de Alfredo Ferreira Lage, de João Carriço, de Arthur Arcuri, de Constança Valadares,
de gente que tinha culhões.