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3 de julho de 2016

SEM GRAÇA


É importante que casos de violência contra a mulher e outros crimes de ódio ocupem o noticiário, causem desconforto e provoquem polêmica.
É importante apontar cada crime, abuso, deslize, por menor e mais inocente que aparentemente seja, como quem cata pulgas num cão. Tudo isso faz parte de uma complexa, antiga e intrincada rede de dominação, que resiste em morrer.

É o que denominamos genericamente de "cultura do estupro", ou "cultura da intolerância, ou do ódio à diferença", que, de tão acostumados estamos com suas manifestações que engolimos besouros como fossem passas.

O universo de assuntos ligado ao tema é imenso e hoje quero focar na responsabilidade que a comédia tem na construção de um ambiente de preconceito com consequências, às vezes, nada divertidas.

O comediante desfruta o poder do microfone, do palco e da piada. Ela lhe garante um habeas corpus preventivo contra qualquer acusação de excesso. Ele pode falar o que quiser, mas tem que pagar a aposta do risco. Piadas machucam.

Mulheres, gays, negros, não se escondam, não se deixem intimidar. Quando se sentirem agredidas e agredidos, revidem. A vaia é um direito legítimo da plateia e esse cancro precisa ser exposto. Uma pessoa que se retira do teatro no meio do show é um soco no estômago do artista, pode acreditar.

Os tempos são outros em movimento constante. Os humoristas precisam mostrar que têm inteligência suficiente para produzir textos de qualidade sem abusar do riso fácil baseado na humilhação alheia. Esse é um grande desafio. Se ele não consegue, saiba que seus dias no mercado estão contados.

2 de julho de 2016

POR FAVOR

Eu fico incomodado quando vou a algum banheiro público, seja numa escola ou num bar, e encontro o aviso "favor não urinar no chão".

Que tipo de gente frequenta um lugar onde é preciso pedir para não urinar no chão?
Quer dizer que se não pedir, essas pessoas não sabem diferenciar a privada do resto do banheiro? Ou não sabem pra que serve o vaso? Ou não têm mira suficientemente calibrada para acertar a larga boca da latrina?

Seja qual for a alternativa eu reputo inútil o aviso, pois, se é necessário afixar um cartaz daqueles, provavelmente a pessoa a quem ele é dirigido não sabe ler, não sabe processar informação, ou não tem educação suficiente para se importar com isso.

Vai ler o cartaz - se conseguir – e pensar, "eu mijo onde eu quiser, estamos numa democracia, o Brasil é um país livre e ninguém vai me dizer onde devo mijar, não estamos no comunismo, uma ditadura socialista é um regime onde o estado define o lugar para depositar o xixi, não estamos em Cuba. Mijo na privada, no chão, na pia, na parede e até na própria boca se eu quiser".

Acha pouco?


Pois na principal agência do Banco do Brasil no centro de Juiz de Fora, no hall de entrada entre duas escadas rolantes que dão acesso aos caixas há um cartaz onde se lê (foto): "Favor não urinar NESTE local". Você vai achar que é uma montagem. Eu achei. E fui à agência e constatei. Perguntei ao segurança o motivo do cartaz e ele disse que é comum pessoas entrarem à noite e usarem aquele ponto como banheiro.
O pior é que o cartaz pede especificamente que para "não urinar NESTE local", o que o retardado pode entender como restrição definida, ou seja, se ele for até o outro lado do hall, em um dos caixas eletrônicos, tudo bem.

É claro, somos uma espécie superior.