A indústria, com o suporte da publicidade e os incentivos do
governo, nos convenceu que ter um automóvel (no mínimo) é um grande sonho de
consumo.
Foi feita aí, em algum momento da história recente, uma
opção pela qual pagamos caro hoje e provavelmente pelas próximas gerações: o
transporte em automóvel próprio.
Essa opção gera uma cadeia inquebrantável de setores que se
beneficiam dela: entre outras, as montadoras, as empresas de engenharia e
construção, as concessionárias de estradas, os agentes públicos que viabilizam
obras, lobistas, concessionárias de automóveis, corruptos em todas as conexões,
despachantes, e na ponta, autoescolas e usuários.
Com o trânsito colapsado fazemos a pergunta: todo mundo pode
ter um carro?
Em princípio sim, de fato não.
Ter seu carro próprio é uma necessidade inventada pela
indústria de uma sociedade consumista e individualista. Que tem o reforço das
péssimas condições do transporte coletivo.
Daí surge uma situação complicada onde, quem pode - e mesmo
que não possa - coloca como prioridade ter um carro e conduzi-lo nas vias.
E o que percebemos nessa hora é que, de fato, nem todo mundo
deveria estar fazendo isso. Quem quer ter carro que tenha. Dirigir um carro não
é pra todo mundo. Não se trata de uma opinião preconceituosa sobre quem dirige
melhor, mas, a verdade é que o carro é uma máquina que exige várias habilidades
e nem todo mundo tem preparo emocional, cultural e intelectual para operá-lo. A
consequência é que as ruas se transformaram em áreas de conflito que geram mais
mortes que qualquer guerra.
As autoescolas deveriam ser um filtro para impedir que
muitos conseguissem habilitação, mas isso - por vários motivos - não acontece.
A legislação tenta, mal e porcamente, corrigir essa
distorção, cassando carteiras, apreendendo veículos e multando.
Faz-se quase nada para formar cidadãos. E a maldição daquele
desenho animado do Pateta que vira um monstro quando entra no carro se repete
profeticamente.