AO REITOR HENRIQUE DUQUE
As políticas públicas
oferecidas ao setor da produção cultural precisam ser avaliadas. Mais quanto ao
método que quanto ao resultado, embora este seja o único parâmetro de aferição.
Via de regra os incentivos
são oferecidos priorizando quem oferece
que a quem são destinados. São regras e regulamentos engessados e quem se
interessar em participar desses programas de estímulos tem que se adequar aos
citados rituais.
Não existe uma atenção
individual em que o gestor simplesmente pergunta: "Do quê você
precisa?". Em seguida ouve e atende.
Seria simples para identificar
gargalos e necessidades, para formar uma parceria produtiva.
A Lei Murilo Mendes - talvez
único mecanismo de incentivo municipal - completa vinte anos de existência e a
pergunta que precisa ser feita é: quais os resultados do investimento feito?
Que alguém tente me convencer que ela - como está sendo praticada - produziu um
ganho significativo para o setor.
Nos últimos vinte anos o
município não criou novos mecanismos ou ações estruturantes para implementar a
produção. Ao contrário, a Funalfa ultimamente fez a opção de substituir o
produtor cultural operando de maneira injusta e desproporcional como
concorrente.
O Theatro Central opera como
um espaço comercial qualquer, quer dizer, com o dificultador de ser gerenciado
por um Conselho que não conhece nem acompanha o meio de produção que cuida. Faltam
a agilidade e a cumplicidade que cobramos acima.
Um dos poucos mecanismos de
incentivo à ocupação do Theatro Central, o projeto "Luz da Terra",
excetuando o valor do aluguel, é pior que o uso comercial, uma vez que delega
ao Conselho escolher o espetáculo que deverá ser apresentado e o preço cobrado
pelo ingresso.
Poderia seguir listando
exemplos, falando do Pró-Música, do pífio apoio à Campanha de Popularização do
Teatro e da Dança, do Carnaval, do inacabável Theatro Paschoal Carlos Magno, do
Museu Mariano Procópio, das novas exigências da Prefeitura para liberar os
eventos culturais, etc, etc, etc. Porém, o que importa é pensar numa mudança
profunda de mentalidade.
Nem a Prefeitura nem a Universidade
devem operar como produtoras de cultura. Do mesmo modo que não devem
fabricar roupas nem criar gado. Quem deve ser fortalecido nessa equação é o
agente da sociedade - o artista, o produtor cultural - que sempre esteve e
continuará produzindo apesar deste ou daquele gestor.
Tenho uma experiência acumulada
de trinta e seis anos no setor. Estou à disposição para contribuir, mas é
necessário que nossa conversa comece com alguém à minha frente perguntando:
"Do quê você precisa?".