Só a publicidade acredita num cenário otimista, associando
consumo à felicidade. Como eu vejo, as coisas não caminham para um final feliz.
Diferente do que querem fazer crer, os processos de transformação da sociedade
não são "naturais" nem inevitáveis. E não há evidências de que um
plano divino conduz a humanidade para um lugar melhor. São movimentos estimulados
e conduzidos por interesses de grupos e corporações. O modelo de consumo
imposto pelo capitalismo global terá graves e trágicas consequências. É preciso
reagir a isso.
Com esse viés, queria tratar do complicado e assustador
ambiente da produção cultural no Brasil, afetado #1 pelas profundas mudanças promovidas pela revolução tecnológica e
#2 pelas formas de ingerência do
poder público no mercado.
#1. A maneira como a sociedade passa a
consumir o produto cultural tem mudado veloz e radicalmente. Sem que os agentes
envolvidos na produção consigam acompanhar.
As salas de cinema viraram lojas de shopping e isso
significou muito mais que uma mudança de lugar. Mudou o conceito: criou-se o filme
fast-food. Até parece cinema. Vai sendo comprimido para dispositivos cada vez
menores em que 'onde se vê' passa a
ser mais importante do que 'aquilo que
se vê'. Isso afeta toda a cadeia produtiva.
Acima de tudo, as mídias digitais estão definindo um novo
ritmo na apreciação da arte. Um vídeo no Youtube dura uns quatro minutos de
grosserias e bobagens. Existe uma relação inversamente proporcional entre a
qualidade do conteúdo e a quantidade de visualizações.
De um modo geral, vivemos um momento de "idiotização"
da sociedade, que encontrou os veículos perfeitos para sua instalação e
expansão. Isso explica a dominância do gênero sertanejo universitário, do funk
carioca, do stand up escatológico e outras manifestações que primam pela
superficialidade e baixa qualidade. São ótimas como pura diversão, nada contra.
Mas enquanto instrumentos de desenvolvimento civilizatório são um fracasso.
É importante enfatizar o aspecto da dominância de
determinados gêneros, porque isso vai afetar o mercado de maneira negativa. O
melhor cenário seria aquele onde existissem oportunidades mais ou menos
equilibradas de espaços e recursos para todos.
Resumindo, já temos uma geração que não quer mais ver aquelas
coisas antigas e nem ver coisas novas como eram antigamente exibidas. E esse
grupo representa alguma coisa em torno de 90% desse público.
Chegamos ao que supomos ser #2 o papel dos governos.
Sobre isso trato na próxima postagem para não ficar um texto
desanimadoramente grande.