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6 de novembro de 2015

O MEDO DA MULHER




Convido você a uma pausa para uma reflexão importante. No meu livro "Como Fracassar na Vida e Ser Infeliz no Amor" trato da diferença entre homens e mulheres e faço uma provocação: Homens não gostam de mulheres e mulheres não gostam de homens.
Confesso que quando comecei a construir essa piada não tinha noção de quão profunda podia ser a verdade contida ali.
Hoje e aqui nesse contexto eu vou mais fundo e além: Além de não gostar, a mulher tem medo do homem.
E isso é muito grave.
Recentemente, o ENEM (Exame Nacional do Ensino Médio, uma mutação do antigo vestibular), usou como tema para a redação "a persistência da violência contra a mulher na nossa sociedade".
A reação foi intensa e até onde vi, masculina. Acusaram de ideologização do tema e de manipuladora seletividade. "Ora, por que não falam sobre a violência contra os haitianos, por exemplo".
Os homens não só são os principais agentes da violência contra a mulher como têm profunda dificuldade em reconhecer isso.
Mas, números mostram que é um tipo de violência que não cede, até porque as políticas públicas de segurança específicas para proteger a mulher do homem não mostram um esforço devidamente proporcionado.  
O dado alarmante e extremamente importante é que a principal ameaça à integridade física ou emocional da mulher está dentro do círculo familiar próximo. Literalmente ela dorme com o inimigo.
Recentemente um vídeo publicado no Youtube provocou intensa repercussão. Uma garota filmou um passeio na rua mostrando a quantidade de vezes que era assediada por homens. Desde um simples fiu-fiu até grosserias bem agressivas.
Do ponto de vista do homem, "ora bolas, só estava fazendo um elogio chamando ela de gostosa".
Do ponto de vista da mulher "a violência sexual começa com um fiu-fiu e se eu não souber me defender, acaba num estupro".
E a história mostra que elas têm razão.
E o ponto de vista masculino continua, "mas se elas não querem que a gente as chame de gostosa, por que se vestem de maneira tão provocante?".
Ora, idiota, quem foi que disse que ela se vestiu para provocar você? A mulher se veste como quiser e não precisa dar satisfação ou motivo a você.
Esse raciocínio neandertal masculino é perigosamente comum e usado para justificar muitos casos de violência, criminalizando a vítima: "Com aquela roupa, ou com aquele comportamento, ela estava pedindo para ser violentada".
Nossa tradição religiosa ocidental judaico-cristã reforça esses estereótipos. Desde a mais tenra idade ensinamos nossos filhos a rezar pro Papai-do-Céu. O deus é homem, criador e todo poderoso. Ele manda ao mundo seu filho, que é homem, que nunca se sujou com mulher e que também nasceu de uma mulher que nunca fez sexo. Jesus teve 12 apóstolos homens e até hoje a Igreja Católica não aceita que as mulheres tenham equidade no ministério. São servas e esposas virgens de Jesus.
Por séculos foram queimadas como bruxas ou amputadas como histéricas. Ainda hoje são mutiladas para que lhes seja privado o prazer sexual.
Nos parlamentos e nas igrejas, homens - os mesmos que as queimaram e mutilaram, lutam - em nome do deus homem e pai - para impedir que elas tenham poder sobre seu próprio corpo, porque, afinal, o macho ainda se considera proprietário da mulher, do seu corpo e da sua cria.
Insisto, saímos da caverna, mas a caverna não saiu de nós.
As mulheres avançaram bastante no debate da identidade de gênero. Os homens continuam tratando o assunto como ameaça. Medo de perder o controle sobre esse incrível poder de criação que é da mulher. Porque eles sabem que quem decide se vai haver e com quem vai haver sexo, é a mulher.
E elas de maneira justa querem o poder definido em lei por decidir se e quando terão filhos.
Está sendo quebrada uma estrutura de dominação milenar. É muito para a cabeça masculina.
Também o homem tem medo da mulher.