Esse é um conceito cristão que justifica outras noções
religiosas como culpa, pecado e perdão.
Deus teria dado ao homem o poder de decidir livremente qual
caminho seguir, qual opção fazer, pelo bem ou pelo mal, o certo ou o errado. E
o homem seria responsável pelos seus atos e consequências.
Assim, o homem que erra tem culpa, incorre em pecado -
dependendo da gravidade do erro - e deve através do arrependimento buscar o
perdão que só Deus pode dar.
O fato bíblico mais antigo é o da expulsão do paraíso e sintetiza
a tese cristã. Deus criou o mundo perfeito onde os leões brincavam com os
cordeiros e nele colocou o homem e a mulher (essa para que ele não ficasse só).
E disse Deus: "Você pode fazer o que quiser, menos comer daquele
fruto". E aí lhe foi dado o livre arbítrio.
O resto da história todo mundo conhece, vem uma serpente,
enche a cabeça da mulher, essa usa as armas de persuasão e faz com que o homem
coma o fruto proibido. Aí fudeu tudo. Foram ambos expulsos, passaram a ter que
trabalhar e sentir as dores do parto (sendo que esse castigo coube só à
mulher).
Por conta disso, todos nós, descendentes de Adão e Eva, já
nascemos com nossas contas no vermelho. Já nascemos em pecado original e
precisamos do batismo cristão para acertar as dívidas arcaicas.
Seria hora de Adão perguntar a Deus: Muito bem, Você me deu
o livre arbítrio, e eu, fazendo uso dele, escolhi uma opção diferente da Sua.
Que livre arbítrio é esse que eu só posso então fazer o que Você quer?
Nesse diálogo absurdo Deus responderia: "Relaxa, quando
criarem a psicanálise você vai entender tudo".
Bem, se você acredita que um livro escrito há quatro mil
anos por um grupo de judeus que vivia numa aldeia perdida num canto de deserto
é a verdade definitiva deixada por Deus, respeito sua crença. Mas aquilo pra
mim é só uma opinião datada, com a intenção precípua de estabelecer regras de
condutas para tribos de judeus e sua complicada relação com seus vizinhos.
Quatro mil anos depois, outro judeu escreveu textos nem tão
sagrados, mas que explicam melhor as raízes das opções humanas: Freud, o pai da
psicanálise. Também são opiniões, mas mostraram que as escolhas estão longe de
serem totalmente livres, que estão condicionadas a traumas, eventos passados da
nossa história pessoal e coletiva.
Pra não estender demais, a publicidade (às vezes associada à
neurolinguística) tem desenvolvido maneiras extremamente eficientes de
programar opções individuais e coletivas. Quando um comercial vai pro ar
(incluindo das campanhas eleitorais) ele tem o poder cientificamente calculado
de determinar decisões. Às vezes até erram porque há sempre um milhão de
fatores envolvidos.
De Jeová à propaganda, temos livre arbítrio, desde que seja
a vontade deles.