Você me encontra também no Facebook e no Twitter

1 de junho de 2011

DENTRO E FORA



Quanto vale o artista local?

Ontem ouvi uma amiga dizendo que passa os fins de semana no Rio porque os homens de lá são melhores. Não é de hoje que a gente sabe que o estrangeiro leva vantagem, ainda mais se falar outro idioma (mesmo que seja castelhano).

Isso está na base do nosso atraso. Essa admiração que temos pelo "de fora", tragicamente marcado no nome da nossa cidade, Juiz "de Fora".

Corrijam-me os historiadores, mas a fundação de JF está ligada ao trânsito de mercadorias que vinham das minas para os portos no Rio. Ou seja, nascemos olhando para o litoral, como uma parada de tropeiros.

Para piorar, nossos ancestrais criaram esse nome terrível que não significa nada além de fazer referência a alguém que nem é ou está aqui.

No último fim de semana a Funalfa realizou o "Corredor Cultural" enchendo a cidade de shows e eventos. Correu nos bastidores uma discussão a boca miúda sobre o valor pago aos artistas locais pelo trabalho. O cachê líquido per capta ficou perto de uns R$ 130,00.

Seja por espírito de colaboração, por falta de dinheiro ou por contrapartida de projetos aprovados na Lei Murilo Mendes, muitos aderiram e geraram uma falsa imagem de fermentação cultural.
Com certeza os artistas "de fora" não vieram por este cachê miserável. E não há aí uma discussão de qualidade, mas o critério de ser daqui ou "de fora".

Esse tratamento discriminatório é sentido nos espaços da imprensa, no interesse do público, nos patrocinadores e perigosamente no gerente cultural do município.

Que a cidade considere que o artista de fora vale mais é um preconceito compreensível por diversos motivos. Que se conforme com isso, é inadmissível. Particularmente a Funalfa pode achar que há uma diferença de nível entre o produto cultural local e o estrangeiro, mas ela tem a obrigação de eliminar essa distância.

Juiz de Fora tem olhar pra dentro e gostar mais de si mesma. Ou então, continuaremos sendo eternamente plateia do desenvolvimento alheio.

4 comentários:

  1. Chega a ser irônica pra não dizer "vergonhosa" a atitude juizforana nessa questão do valor artístico que você abordou, Gueminho. Porque um outro exemplo claro da veracidade disso é a própria postura de empresas da nossa própria cidade ao apoiar eventos artísticos daqui. São pouquíssimas aquelas que investem na cultura local. Vejo artistas talentosíssimos em nossa cidade lutando dentro de seu próprio território por reconhecimento e trabalho. Daí é só aparecer uma peça de fora que essas mesmas empresas estufam o peito pra falar "Nós apoiamos a cultura em nossa cidade!". Balela!
    E o mais irônico disso tudo é que nós mesmos criamos nossos "heróis do exterior" porque a quantidade de artistas talentosos que nossa cidade já exportou é enorme, e dali a algum tempo viram artistas de "fora" tão valorizados por nós mesmos, que por nossa vez nem nos recordamos que aquele talentoso artista saiu do nosso próprio berço.
    Vou começar a puxar o X quando for pedir apoio cultural...

    ResponderExcluir
  2. Embora eu seja "de fora", me uno a você em sua auto-crítica de JF...

    ResponderExcluir
  3. Elisette Bernardino2 de junho de 2011 às 00:12

    JF nem existe no mapa de Minas... Estes caras só se lembram de vir catar votos...Minas é só de Barbacena prá cima... Concordo com vc plenamente

    ResponderExcluir
  4. Você mais uma vez aponta para uma das idiossincrasias de Juiz de Fora; cidade que não tem uma identidade, tampouco personalidade e que é 'gaiatamente' considerada pelos cariocas um subúrbio do Rio de Janeiro. O público de JF também é cúmplice desta anomalia pois pouco prestigia seus artistas locais. Basta um artista 'de fora' se apresentar na cidade, por 'cachês globais' para filas enormes se formarem nas bilheterias e lotar platéias. Sou carioca e lamento muito tal estado de coisas. Além disso, a elite sofre de uma miopia degenerativa ...

    ResponderExcluir